quarta-feira, 20 de outubro de 2010

ensaio

1 - um macaco de pelúcia
2 - hamster
3 - cachorro
4 - sobrinhos
5 - filho

isso dá uns... uns...mais ou menos... deixa pra lá...

@xuxudrops, nosso filhote!

Estamos no segundo turno, né?

Para além das minhas posições políticas, o que mais me assombra é ver o povo todo associando o PT a um comunismo que come criancinha, que se veste de vermelho e vai pra revolução, implanta ditadura e faz reforma agrária com a terra de gente honesta que pagou bem caro por elas, confisca o dinheiro do esforçado para dar para o pobre vagabundo.

Gente, isso tudo é tão démodé!

e então o alan morreu.

só mais um menino negro, pobre, morador da periferia que levou um tiro enquanto roubava, como muitos outros, outros nomes, mesma história. não sei maiores detalhes além do fato de que ele foi meu aluno, e isso me deixou triste por algum tempo.

Ele era mais um dos alunos da 5ª série D, temida e odiada na escola, uma grande incógnita para mim, que tentava compreender como aqueles meninos haviam chegado na 5ª série sem saber ler e escrever sem ninguém ter notado.

(desavisados: eu fui Professora de Sala de Leitura por um ano, numa escola na periferia de SP, e atendia desde os alunos da 3º série até os senhores de cabelinho branco da Educação de Jovens e Adultos)

Recebi os meninos que não sabiam ler na minha Sala de Leitura, e tentando equilibrar essa situação absurda, eu lia para eles. Muito. E eles apreciavam esse momento de atenção e ficção compartilhado por nós. Me tratavam com respeito, diferente do modo como tratavam os outros professores (exceto o professor de língua portuguesa, adorado pela turma) e eu devo isso ao modo como eu encarava aqueles meninos: sim, puxava a orelha quando se atrasavam para a aula com os olhos vermelhos, bem como elogiava no momento propicio.

Depois de conquistá-los, resolvi armá-los para a revolução: achei que eles precisavam conhecer o lugar que ocupavam na cidade, geograficamente e economicamente, queria que eles entendessem a desigualdade da cidade para a partir daí romperem com o ciclo de miséria e tragédia que assola a periferia. Passei a levar, para nossos encontros semanais, mapas, dados, estatísticas, e para começar a nossa conversa perguntei para a 5ª série D:

- então, em qual região da cidade nosso bairro, o Jaraguá, está localizado?

E a resposta foi imediata:

- na Zona Sul!

Quando questionei, os alunos me explicaram sobre o Mano Brown, cantaram uma música e disseram que são como ele. Logo, são da Zona Sul, boba era eu que achava o contrario.

Investi na leitura de mapas, de gráficos, imagens e insisti para que os alunos vissem criticamente a COHAB e o apartamento de luxo da novela. Acabou o ano, mudei de escola, nunca mais tive noticia daqueles meninos, exceto o alan. Não faço idéia se aprenderam a ler, se desistiram da escola, se engravidaram, viraram avião, se tomaram jeito na vida.

O que eu sei é que a revolução não aconteceu.