Memória é uma coisa que engana a gente.
Nas minhas lembranças a Bienal do Livro era um evento muito desejado, momento em que eu ganhava uns trocos do meu pai e me aventurava, de metrô (“mas não é perigoso?” as tias perguntavam) até o local do evento. Há quinze anos (meudeus como sou velha!) a bienal era a minha oportunidade de fazer bons negócios e voltar pra Mauá com novidades.
Mas aí a gente cresce.
Ontem eu estava lá, ansiosa por ser mais uma Bienal e porque a prefeitura “deu” 50 pilas em cheque-livros para seus funcionários (dez mil, que se inscreveram previamente, como eu) e que, somados ao super cartão do educador (20% de desconto) poderia fazer milagres. Mas tudo o que vi foi um bando de adolescentes fãs de Crepúsculo e coisas do gênero, em filas enormes para pegar o autógrafo de sabeládeus quem, e senhoras&jovens “do senhor”, cantando hinos de louvor e causando o caos por uma beirinha do olhar do Padre Marcelo.
E sabe aqueles professores que ganharam os 50 pilas? Se engalfinhavam em estandes como o da Ciranda Cultural, que vendia livros infantis por preços baixíssimos, e qualidade idem. Mas quem se importa com qualidade?
Bienal virou um lugar de espetáculo, que sai no JN e que é bacana de ir. Ninguém está preocupado com a qualidade, ver os lançamentos, entender o jogo do mercado editorial ou levar o filho para comprar o seu primeiro livro. Não. O cara chega lá, compra uma pilha de livros pra colorir de um real e acha que oferece cultura para seu filhoe/ou aluno.
Por isso, embora eu tenha aquele crachá bacana que me permite entrar e sair em qualquer dia e horário, não coloco meu pé no Anhembi. Se é pra comprar, espero a feira do livro da USP, que oferece no mínimo 50% de desconto. Se é pra ver lançamentos, vou ali na Livraria Cultura. E fim.
Nem tudo foi derrota: me dei de presente o Jamie em Casa (ai que ele é tãããããão lindo!) e pra dar de presente o Nova Iorque Delirante e Boris Kossoy Fotógrafo, ambos da Cosac Naif, única editora que valia a pena, com 40 % de desconto para professores.
(quando a gente chega perto dos 30, aglomerações, bagunça e caos não são mais toleráveis)
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