oi?

as explicações, verdadeiras ou não...


no inicio de 2005 resolvi criar um blog. pq era moda, pq todo mundo tinha, pq parecia legal.
mentira.
comecei a escrever num blog porque NECESSITAVA do exercicio da escrita e da crítica, porque minha vida sofria bruscas mudanças e eu não sabia muito bem o que fazer com elas. era meu cadernido pautado e só, sem um assunto ou objetivos específicos, nada.
era meu e ponto.
um leitor aqui, outro acolá, todos anônimos que aos poucos se tornaram amigos, outros se perderam com o tempo.
o fato é que de 2005 pra cá muita coisa mudou e o meu finado blog, num outro lugar horroroso mas do tamanho da minha necessidade na época, foi testemunha dos homens que amei, dos que passei a odiar, das crises, dos textos lidos, adorados ou não, das peças, dos filmes, de mais crises, das descobertas e das coisas tolas e frívolas que ocorrem no meu cotidiano.
salvei tudinho.
agora é arregaçar as mangas, arrumar a casa, ajeitar as coisas antigas, que me constituem, e trazer as novas.
e ver no que dá.
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Desde os quatro anos uso óculos: pobre menina míope e estrábica, que mesmo entrando na faca aos nove anos ainda hoje enxerga o distante fora de foco. Três internações por pneumonia, deixando o coração da mãe partido e cheio de culpa por ter posto no mundo menina tão frágil, que ainda por cima carregava uma ninhada de gatos a chiar no peito.
Destra, tenho o dedo médio torto, resquício de professoras loucas que adoravam mandar fazer cópias e mais cópias, entre gritos e maus tratos. Contrariando a regra e o trauma da escola, virei professora. Com o tempo o cabelo que era liso tornou-se enroladíssimo, fazendo a mãe remontar a tempos ancestrais e procurar a origem de filha tão peculiar. Aos doze foi diagnosticada uma escoliose dorso-lombar que vem, paulatinamente, me arrancar dor e dinheiro, aplicado em relaxante muscular. Pro lado esquerdo, essa a minha falha. Nadei, nadei e nadei, na tentativa de amenizar os efeitos da má postura, porém meu lado esquerdo continuou dolorido e torto.
Entrei na militância estudantil.
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depois de uma overdose de Indiana Jones na adolescência, quis me tornar arqueóloga: fiz o curso de história, me encantei pela educação e hoje estou a anos-luz de uma escavaçãozinha. na fase deprê decorei todas as músicas do Los Hermanos e do Gram (lembra?). esqueci metade. aprendi a gostar de berinjela, couve, tomates: na ausência materna, alimentação sai mais barato que remédio.
quase casei, quase mudei, quase pirei, quase morri.
bebi pouco, amei muito.
rodei alguns quilômetros e conheci muita gente: fui muito além do que esperavam de mim. mas ainda não sei o que devo esperar.
guardo o Paulo Leminski e o Caio F. na estante: minhas preciosidades.
acho bacana Amelie Poulain, mas vivo numa fase meio Miranda July.
cansei de ser mandada.
um dia entendi que eu não cabia no lugar onde eu morava. que era necessário partir, questão de vida ou morte, isso já tem dez anos. até hoje não sei direito a que mundo a que pertenço. ainda gosto de bandas de rock ingles. ainda não fiz um curso de história da arte, ainda guardo bonecas, ainda tenho as cartas de amor-perdido, ainda uso melissa e flor no cabelo.
A última: inventei de costurar!