terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Domingo à noite. Saí da calmaria do meu quarto, atendi o chamado e fui ao Espaço Parlapatões, prestar solidariedade a um cara talentoso e a um lugar que aprendi a amar.

Mais uma tentativa de assalto, mais vitimas numa cidade cheia delas, ok?


***

Comecei a freqüentar a praça Roosevelt há três anos, guiada por alguém que faz do seu amor pelo centro uma luta diária insana. Moradora e/ou freqüentadora da Zona Oeste, até então uma boa parte do Centro era desconhecido pra mim, resquício das proibições e medos do pai (“lá é lugar de puta/traficante/cheirado de cola, vc não vai!”) .

O destino fez com que eu fosse trabalhar bem no meio da praça da república, e justamente comoeducadora comunitária de uma escola de educação infantil. Comecei então a me envolver com as questões o Centro e a participar dos encontros do Viva o Centro, e a me encantar pelas histórias e seus donos que, generosos, me pegaram pela mão e me levaram pra passear.

Assim eu comecei a assistir os espetáculos, freqüentar os bares, e o amor dos outros pela praça virou o meu também. Aos poucos entendi a história do lugar, e de como aquele ambiente vibrante era fruto de árduo trabalho dos grupos teatrais ali instalados, e de como ele se difere de outras áreas da região central.

O tempo passou e a Praça, meio do caminho entre a minha casa e a do moço, virou o ponto de encontro entre amigos, o lugar do sanduíche gostoso, da cerveja barata, da livraria bacana, da vasta opção de espetáculos de qualidade e preço justo. Para além da boemia, pra mim a Praça é marco da ocupação e mudança do espaço, mesmo sem apoio do poder público.

A rua precisa ser ocupada. Caso contrário, vira o Largo da Memória, ponto de meninos que cheiram cola e batem carteiras, cotidianamente. Porque ali, marco histórico da cidade, as pessoas passam, apenas. Nada fica, nem poucos segundos de atenção para os azulejos centenários, nada. Quem passa não se importa: só cuida do lugar que permanece.

Por acreditar nessas coisas eu fiquei bem puta com a Revista da Folha que, a um tempo atrás reduziu a praça aos bares e aos “botequeiros”, e entristecida com o coiso todo nos Parlapatões.

***


Ps: eu acompanho os parpapatões há mais de dez anos, desde o dia em que eles se apresentaram em Mauá, numa caravana SESC de artes, e eu amei.

Ps2:. Tem algumas coisas que merecem ser lidas:

Blog do Nassif

Blog da Márcia Abos

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

um bilhete,

para alguém bem perto (longe)

eu só queria te dizer que passa, que o tempo cura, que as coisas dão certo sim, por mais que se diga o contrário, por mais que a gente pareça imerso numa maré de má sorte, por mais que a gente diga que não.

que a vida tem uma graça, uma graça boba de risada de criança e de cerveja gelada com os amigos num dia de calor. que nada faz sentido nessa vida de meudeus, que tudo é meio caótico sim, mas ainda assim gracioso.

que não precisa ter medo. ou melhor: que o medo fique quietinho no canto do quarto enquanto se vive. que o trate com respeito, que lhe diga boa-tarde e boa-noite. e só. pois medos são importantes mas não precisam ser carregados na mochila, que todo mundo tem o seu mas todo mundo finge muito bem que está tudo bem.

queria te dizer que a vida é repleta de surpresas e que a gente precisa estar atento/sensível/disposto a perceber as coisas, por mais que isso pareça piegas e/ou livro de auto-ajuda, pois não é.

é preocupação de gente que já viveu e, inexplicavelmente, se preocupa. com você.

Paredes brancas me angustiam

Depois das grandes mudanças realizadas nessa casa nos últimos tempos, ainda restava uma parede branca-e-sem-graça no meu quarto, na cabeceira da cama. Na sexta-feira passada tive um ataque de siricutico e resolvi mudar tudo, com o que tinha à mão: vasculhando nos blogs alheios, de link em link cheguei aqui e aqui. Cinco minutos depois eu já estava esvaziando minhas latinhas e ligando a pistola de cola quente na tomada.

Resultado: materiais de artesanato, como botões, fitas e pastilhas, improvisados em tupperware, no mais perfeito caos, e uma parede muito mais bacana.

Tudo ficou assim:

ps: as fotos ficaram horrendas, eu sei.

ps2: estou avisada: se, por um acaso, alguma lata cair durante a noite e acertar a cabeça do moço, haverá uma cena de violência doméstica.

ps3: viva a cola quente!

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Pedido de casamento

Eu só queria te dizer que sim.

Sim, eu aceito e assumo os riscos. Só preciso de espaço suficiente para os meus livros, nem faço tanta questão do resto. Alias, não faço questão de nada, festa, formalidades, nada. Sei da necessidade de viver isso tudo até o talo, até onde não houver mais fôlego. Pois, depois do beijo na testa antes de dormir, dos afagos, da mão na mão na hora do aperto, das graças, das brigas e reconciliações, de toda a libertação que o encontro desencadeou, depois de tudo, não quero mais o pouco.

Daí já vem um outro e me lembra de que tudo acaba, e eu bem sei que tudo tem seu prazo de validade, mas ainda assim arrisco. Você me vale todo o risco.

Dá pra entender essa minha necessidade em persistir nos erros? Não, eu sei que não dá, que nos tempos modernos não cabe mais um amor assim, passional. E eu faço o que? Troco meu coração na feira do rolo por uma quinquilharia qualquer?

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

vício

depois de dr. house e how i met your mother...

flash forward!
o mundo pára por 2:17. nesse tempo as pessoas tem um flash de como será as suas vidas dali a 6 meses. o que fazer a partir dessa visão?


(ainda primeira temporada, já no aguardo, com nervos a flor da pele, do 8º episódio)

domingo, 8 de novembro de 2009

valsa com bashir

tardiamente assistimos Valsa com Bashir. terminado o filme, restaram as dúvidas: porque eu demorei tanto pra assistir?; isso tudo é verdade?; se sim, quais os desdobramentos de tais fatos? que droga de curso de história eu fiz que não me lembro do que rolou no líbano na década de 80?
o deus-google ainda não me deu todas as respostas, mas uma coisa é certa: é uma ótima animação, completamente diferente de Persépolis (ambos falam sobre memória de guerra), é mais agressivo, nas imagens e no modo como a história é contada.
mereceu cada um dos muitos prêmios que recebeu, fato.

na folha de ontem:

Prefeitura quer tornar região da Barra Funda a mais populosa de SP

Projeto para estimular a ocupação prevê aumentar para 230 habitantes por hectare a ocupação, que hoje é de 90

Verba para obras virá de operação urbana que inclui parte de Perdizes e Água Branca; ideia é aproveitar a infraestrutura pouco usada

***

A barra funda virou hype. lá há uma porção de novos bares/baladas/points para onde a moçada descolada da cidade se desloca, deixando pra lá a vila olímpia e a vila madalena.

me chame de conservadora, mas eu não gosto nada disso.

pra mim a barra funda deveria permanecer assim do jeito que a conheci há 5 anos: com suas casinhas operárias, as velhinhas nas calçadas, a galera na quermesse da igreja de santo antônio, o barulhinho do trem passando, e os meus alunos indo jogar bola no areião, a tranquilidade do bairro em oposição ao caos do Centro, tão próximo dali.

e, se de fato o projeto da prefeitura vingar, teremos um bairro invadido por um bando de playboys e patricinhas que pouco se importam com as histórias nem as pessoas do lugar.

ps: pesquisando no google sobre casas operárias cheguei aqui

das invenções


flores de feltro, segundo o precioso tutorial do superziper. a azul é um broche e a vermelha, um tictac pra prender no cabelo.

sabe a feira "como assim?", aquela que acontece ao lado do conjunto nacional? então, há uns 2 meses vi um colar lindo (e caro), achei diferentão e bacanérrimo. olhei com cuidado e voltei pra casa com a sensação de que eu poderia fazer um também, e aí está!



quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Contrariando a modernidade, eu gosto de costurinhas. Pode parecer antiquado (né?), obsoleto, um absurdo alguém que queimou sutiã em praça pública, trabalha nove horas por dia e ainda tenha fôlego pra encarar agulhas e linhas, mas é verdade.
(pausa
eu fui criada pra casar e ter filhos, e essa coisa de ser independente foi quase um acidente, nunca imaginado pela minha mãe que, pobre coitada, me ensinou todos os macetes do lar. Sim, gosto de cozinhar pro namorido, sim, eu adoro arrumar as coisas aqui em casa e deixar tudo bacana. Me chame de amélia. ou não)

minha avó tinha uma maquina de costura singer, preta, de metal, com a qual sempre inventava umas modices, bem simples, como a colcha de retalhos azul que me ficou de herança (maldita dor da morte, que nos paralisa: tudo o que restou dela pra mim foi essa colcha, e nada mais de suas memórias preciosas). desde cedo minha tia costureira alimentou meus desejos com botões, rendinhas, fitas, retalhos e demais badulaques úteis a quem veste bonecas. minha mãe tem uma singer também, comprada no começo da decada de 80 em suaves prestações nas casas bahia, que o tempo e a impaciencia fizeram ela ficar num canto esquecido da casa, mas que o sentimento de posse (maldito!) impede que seja doada pra mim.

sempre sofri de curiosidade latente, assim como sempre fui adepta do “faça você mesma”: sou daquelas que vai nas feiras de moda, olha tudo, anota e corre pra casa pra tentar fazer igual. Eu sei que na maioria das vezes não dá certo... assim como eu sei que da ultima vez que eu sai pra trabalhar com um colar handmade exatamente quatro pessoas me perguntaram quanto eu paguei e onde comprei, e ficaram assustadas quando disse “não, colega: isso é arte minha”

então, flores!

flores de feltro e renda, com tic-tac para o cabelo, alfinete para servir de broche ou pra colar na tiara.


















bolsa de feira, comprada na praça da sé pela pechincha de R$5,00+flor de botões, minha mais recente paixão (e que virou moldura para o espelho do banheiro)






ps: sim, aqui em casa de fato tem um manequim de costura, que é constantemente alfinetado com as nossas invenções...
ps2: não sei se é cool, se é modinha, se é sei lá o que. eu gosto, saca: e PÁRA de fazer o radião! (mimimi, hohoho) #internas

terça-feira, 3 de novembro de 2009

sonhei com o fim.
acordei com cara de choro.
amar demais dá nisso.

Quanto dura o amor?

anos de convivio anonimo na repartição pública, os segundos para a leitura da contracapa de um livro, o tempo da troca de olhares no interior de um onibus lotado, os tres minutos e meio de uma dança. Uma aula, um semestre da faculdade. O tempo dos filhos, netos e bisnetos acumulados, dos bilhetinhos trocados na quinta série, de uma partida de war, do beijo roubado no escuro do cinema vazio, da briga passional na avenida movimentada. O tempo de um debate, de uma batida, de um assalto, de mãos que sem querer tocam o sinal do onibus ao mesmo tempo, tão estranha é essa vida.
O amor dura

domingo, 1 de novembro de 2009

hoje, no museu afrobrasil, jorge ben nunca fez tanto sentido...

ZUMBI
jorge ben

Angola Congo Benguela
Monjolo Cabinda Mina
Quiloa Rebolo
Aqui onde estão os homens
Há um grande leilão
Dizem que nele há
Uma princesa à venda
Que veio junto com seus súditos
Acorrentados num carro de boi
Eu quero ver
Eu quero ver
Eu quero ver
Angola Congo Benguela
Monjolo Cabinda Mina
Quiloa Rebolo
Aqui onde estão os homens
Dum lado cana de açúcar
Do outro lado o cafezal
Ao centro senhores sentados
Vendo a colheita do algodão tão branco
Sendo colhidos por mãos negras
Eu quero ver
Eu quero ver
Eu quero ver
Quando Zumbi chegar
O que vai acontecer
Zumbi é senhor das guerras
È senhor das demandas
Quando Zumbi chega e Zumbi
É quem manda
Eu quero ver
Eu quero ver
Eu quero ver

(jorge ben revisitado. perfeito é pouco)

em off

(do twitter)

@geraldoalckmin_ O contato com a natureza aproxima o homem de Deus. Plantei uma muda de Guaiçara.
rialto

sábado, 31 de outubro de 2009

Dos encontros


semana passada trombei com as meninas do superziper na fila do cinema. Nada demais, as meninas são blogueiras, eu também sou, e daí, né? E daí que elas são talentosas, que eu as acompanho já tem um tempão, que faço um monte de coisas que elas sugerem. E o que eu disse? “oi, eu acho que leio vcs... e essa flor de feltro (aponta pra flor do cabelo) eu aprendi lá”
Fim.
Eu poderia ter dito um montão de coisas, mas não: virei pra direita, sentei e me enfiei no balde de pipoca, morta de vergonha.

Com isso lembrei de outros encontros ridículos (pq eu não sou boa em encontros)

lourenço mutarelli
(lançamento na livraria hqmix. livro em punho, cara a cara com o autor mais-mais)
-oi
-oi
-er... então...
-qual o seu nome?
-Telma... e eu morro de vergonha dessa coisa de pedir autógrafo, sabe?
-Ah, eu também, nunca sei o que fazer
ele autografa. Eu digo obrigada e ponto. Nem mais um ai)
no dia seguinte, à tarde, atravessando a Ipiranga, trombo com ele novamente, que me diz um oi sorridente. Eu, feliz em ser reconhecida pelo cara, solto a pérola: “ai que legal que vc lembrou de mim... deve ser pq eu tô com a mesma roupa de ontem...”. Ele sorri amarelo, atravessa, pega um taxi e vai...

paulo henrique amorim
(bienal do livro, autografando o Plim Plim)
-oi, pode autografar meu livro?
-Qual o seu nome?
-Não, não é pra mim, é pro meu pai, o nome dele é Paulo
-sério? É jornalista também?
-Não, é peão mesmo...

leonardo boff
(na fflch/usp, pq eu fui criada dentro da teologia da libertação, ok?)
-qual o seu nome?
-Telma
-UM VIVA, UM VIIIIIVAAAA À LUTA DAS MULHERES!!!
e acabou aí.

paralamas do sucesso
(há muito tempo, na turne hey na na)
-oi, eu sou fã de vocês desde a minha infancia!
-E vc já saiu da infancia?

david lloyd
(pq eu AMO V de Vingança, ok?)
-er... então... hello...er... ângelo, fala com ele que eu não sei falar inglês!
E o ângelo falou. E pela simpatia, além do autógrafo ganhei de brinde um desenho do V. Ui*

allan sieber
(bem... com ele não houve diálogo: ele tava bebado e eu também)

ziraldo
(trofeu hqmix. Depois do seu discurso de agradecimento, @hqemfoco diz: telmaaaaaa, o ziraldo tá na sua frente! Todos se voltam para as cadeiras atrás do dito cujo, curiosos por saber quem é a tal telma. Terminado o evento...)
-oi, eu sou a telma...
-prazer telma, tudo bom?
-Eu adoro seus livros, tenho todos e leio tudo pros meus alunos. E queria ser igual a professora maluquinha do seu livro, sabe?
(risadas amarelas)
-ah é? Me manda um email pra gente conversar melhor...
-tá, tchau
(daí eu tive noção do ridículo e corri pro buraco mais próximo)

acho que eu deveria ganhar o prêmio de pior tiéte do ano


(para fazer esse texto listei todos os livros que emprestei e que não foram devolvidos, e me deu uma vontade imensa de chorar)

mostra de cinema sp

eu desisto
são paulo é a cidade com a maior concentração de cinéfilos-nerds-intelectualóides-atores-sem-nada-pra-fazer de todo universo. Só assim explico essa coisa de vc chegar com DUAS horas de antecedencia no cinema e TODOS os ingressos já terem sido vendidos.
Ok, a vida é assim, vamos ligar antes pra ver se tem ainda ingressos:
- oi, ainda tem ingresso pra sessão das 14:00:
- sim, moça, ainda tem 47 ingressos..
13:00. pega o elevador, corre, pega um taxi, 10 minutos depois:
- duas meias pra tokyo, por favor!
- São as ultimas, que sorte a sua!
É isso ai, colhega: nessa cidade tudo é concorido a tapa.
***
um filme, três episódios. uma visão acelerada/colorida/vibrante/onírica/alegórica deTókio.
o filme não é uma declaração de amor explicita a uma cidade, como Paris eu te amo ou Bem vindo a São Paulo (que alias eu não gostei nem um pouco): a metrópole aparece como um pano de fundo fundamental para o desenvolvimento das três histórias quase surreais apresentadas.
Vale MUITO a pena ver


ps: e uma coisa ficou decidida: se um dia eu tomar coragem e fazer uma tatuagem, ela será como a da menina do terceiro episódio do filme: botões, para relaxar, desestressar, amar e desligar.

não
eu não sou da moda nem da arte nem do palco nem do holofote nem da rua nem da graça
sou dos textos:
passionais

(uma coisa que acabei de mandar pra deburah, e que era meu texto-de-cabeceira há uns anos atrás:)

Céu Embaixo
17
Janelas, escancaradas janelas do 17º andar, aqui vou eu, aqui vai toda essa minha estúpida vontade de apagar a luz, única maneira decente de apagar a dor.

16
Décimo sexto andar. Até aqui, tudo bem. A temperatura está a 17 graus, o céu azul, e a lei da gravidade continua funcionando com o costumeiro rigor. Quem partiu, tem que chegar.

15
Ao passar pelo 15º andar, já não acho mais que quem partiu tem que. Está provado que é possível, em certos casos, partir sem chegar a. Nesses casos, se diz, houve empate. Eu não jogava pelo empate. Jogava pelo escândalo, vitória ou derrota. Foi vitória? Derrota? Tem gente que prefere abrir o gás. Tem quem se dedique à pesca submarina. Em nenhum desses casos, o fim é algo de último, a meta não é definitiva. Qual era o jogo dela? Fosse qual fosse, amigos, amigos, jogos à parte.

14
Só quem já caiu de um 1º andar pode imaginar o que senti quando. Quando foi mesmo? Será que foi? Ou foi um peso que tirei de cima de mim? Peso por peso, prefiro o meu, que, pelo menos, me leva para algum lugar.

13
Pronto. Treze é meu número de azar favorito. Tenho outros números de azar. Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, por exemplo, essas coisas, enfim, que atravessam as réguas de cálculo. De todos, 13 é o meu predileto. Que foi que fiz para merecer cair até o 13º andar, donde se descortina um relance do Atlântico? Quem sabe eu não devia ter, vocês sabem. Vai ver, aquela nuvem lá longe não passa de um eco de um pensamento meu. A raiva é sábia.

12
Alguma coisa não pára de me dizer, não devia ter vindo. Eu sabia que a comida era péssima, o atendimento sempre ficava a desejar. Mas, depois de vindo, como desvir? O 12º é sempre o mais filosófico. Aquele onde o ato de pensar fica mais ridiculamente genérico. Cair não é genérico. Cair é a coisa mais natural do mundo. Cair é lógico. Podem perguntar para qualquer pedra do planeta Terra.

11
O 11º andar é sempre um caso à parte. Talvez melhor dissessem um caos à parte. Mas isto não seria correto. O correto consiste em dizer: o 13º andar, donde se descortina um relance do Atlântico, sim, o mais correto, é deixar cair.

10
Não sei como suporto esta situação. º absolutamente ridículo. Só porque alguém saltou do 17º andar de um edifício não quer dizer necessariamente que tenha que chegar até um, digamos, décimo andar. O décimo andar, em casos de queda, é objeto e motivo de lendas e chacotas entre muitos povos primitivos que, absorvidos por outros afazeres mais prementes, deixaram-nas cair no esquecimento, onde jazem até hoje. Mas jazem muito bem. As lendas sobre o décimo andar, ainda vai haver quem as conte. Palavra de honra.

9
Que frio. Bem que minha mãe falou, leva um casaco. Sempre assim. A cabeça não pensa, o corpo é que sofre. O que eu queria mesmo era ficar para sempre no 12º andar.

8
Ela, ela mora no 12º andar. Ao passar, quase dei um alô. Ela não entenderia. Telefonaria para a mãe. Fritaria um ovo. No máximo, olharia para baixo. Ou para cima, para ver de onde eu tinha vindo.

7
Parece mentira, mas cheguei ao 7º andar. A que ponto chegamos! Nessa velocidade, a lembrança do 12º andar parece apenas uma lembrança. A física ensina que os corpos têm sua queda acelerada à medida que se aproximam do destino. Não vejo por que deveria ser diferente comigo. A lei da gravidade é a mais democrática de todas. Rege, com idêntico rigor, gregos e troianos, jóias e paralelepípedos, impérios e pétalas de magnólia. Sete é conta de mentiroso. Ela me mentiu. Nada mais fácil que mentir que se ama alguém. Basta dizer: eu te amo. Quem vai saber? Como medir? Como provar? As palavras também estão sujeitas à lei da gravidade?

6
No sexto, fica a administração. É o andar mais frio e mais distante. É onde se tramam as grandes negociações, onde ficam os cofres com os segredos indecifráveis. Chegar ao sexto andar é a ambição de todo corpo que cai. Os que não. A poucos é dada essa proeza. Os que fracassam, fatalmente, continuarão caindo até o quinto, onde ficam os infernos.

5
Do antigo inferno, o moderno só traz o nome. Na verdade, o inferno de hoje, no quinto andar, é um dos andares mais agradáveis do edifício, dispondo de amplas instalações, sala, cozinha, banheiro, área de serviço e quarto de empregada. Os banheiros são revestidos de material à prova de fogo, precaução inútil, já que neste prédio raramente ocorre algum incêndio de proporções catastróficas. Da janela do quinto andar, avista-se o letreiro que diz, PROIBIDO CAIR.

4
Ninguém nunca soube para que servia o quarto andar. Sempre se imaginou que era uma espécie de depósito onde se guardavam as coisas que não serviam mais para os andares de cima, garrafas vazias, móveis usados, lâmpadas queimadas, livros já lidos, óculos quebrados, espelhos, diários, relógios.

3
Deus queira que esta saudade do 12º permaneça acesa durante todo este andar, durante o frio, o vento, a angústia, a raiva e a força maior deste poder que me chama.

2
Não há muito a dizer, nunca há. Meia dúzia de palavras resolvem problemas de mil anos atrás. Fomos nos dizendo cada vez menos Dizer sempre é uma outra coisa.

1
O chão é duro.


p. leminski - Céu embaixo
(do livro Gozo Fabuloso)
(in jornal Folha de S. Paulo, mais!, p.12, 15 de agosto de 1999)

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

coisas de meninas - capítulo 3: banheiro

a reforma nos deixou um banheiro branquinho. tratamos logo de reverter a situação com muita cor em pequenos detalhes:

1º - espelho, que recebeu em sua moldura botões multicoloridos (viva a 25!)
2º - parede, que ganhou pastilhas de mosaico entre um azulejo e outro (do tempo em que eu
fazia caixinhas de madeira)
3º - cortina, que também recebeu botões em suas argolas
4º - poster com obras de toulouse lautrec e egon schiele
5º - banqueta, para as revistas e jornal.
6º - tomada, com mais botões
7º - decotape de bolinhas, no pote de sabonete liquido
mesmo com todas as mudanças, percebemos que há um vazio entre o bidê e o vaso sanitário, que poderia ser ocupado por uma planta. mas qual? e no mais, que função poderíamos dar a um bidê que não é usado como tal?


um viva para a cola quente, que nos ajudou na empreitada!

coisas de meninas - capítulo 2: cozinha

queríamos uma mesa nova, grande o suficiente para o café da manhã de domingo, cada qual com o seu namorado e/ou convidados. e precisava ser barata, beeeem barata.
depois de muito vasculhar na internet idéias criativas, práticas e econômicas, optamos pelo simples: uma porta e dois cavaletes. o pai deu a dica: rua do gasômetro. tudo em/para madeira ("mas filha, compra uma mesa nas casas bahia e paga em 12 vezes, sai baratinho...")
ainda não decidimos sobre a cor, mas uma coisa é fato: mesa de dois metros é o máximo!

vamos aos custos:
cavaletes: R$16,00
porta: R$46,00
cadeira: R$30,00x6
total: R$258,00

e ainda:
- plástico, por R$6,00 o metro, no bom retiro
- passadeira (sim! aquela de colocar no chão!) cortada na medida certa faz a vez de jogo americano, por R$6,00 o metro, também do bom retido.
- toalha de mesa, do extra
- espada de são jorge, pra afastar o mau olhado
- relógio de parede, da loja de 1,99 da barão de itapetininga

ainda falta uma luminaria, como essa aqui e algo para quebrar o branco-sem-graça do azulejo.





coisas de meninas - capítulo 1: sala

há pouco mais de um mês as coisas começaram a mudar aqui em casa. de verdade. trocamos uma advogada por outra. não, minha gente, advogado não é tudo igual: essa topa reformas, ajuda nas compras, cozinha e tem senso de humor, e é a mais nova moradora do 902.
somos três meninas: uma, publicitária e gaúcha, há algum tempo em sp, outra, advogada da mooca, que precisa ir além do leito materno, e eu, professorinha e moradora de sp também há algum tempo. com a vinda da nova moradora, concordamos que era necessário realizar algumas mudanças na velha casa.
E as mudanças foram tããããããão legais que eu acho que são dignas de nota. A partir daqui, posts sobre decoração, com pouca grana, criatividade e cola quente.

a sala:
pufes velhos+sofá-cama preto+almofadas da 25 (3 por R$10,00!)+quadros que foram presente do ex chefe+tapete de chenille+mesa de centro+caixinhas chinesas(?) de porcelana(?)da loja de 1,99+livros estilosos argentinos+luminária de papel baratérrima da Liberdade+luminária da teodoro sampaio
=
SALA ACONCHEGANTE PRA VER TV E RECEBER AMIGOS
tudo isso por muito pouco ou quase nada. juro.

sábado, 19 de setembro de 2009

Sábado de ócio é o fim da picada.
Agora já estou vendo a Xuxa (parece piada mas não é) entrevistando o povo do Skank. Queixa número um: porque, meldels, bandas legais precisam aparecer em programas babacas?
Como uma coisa leva a outra e eu sou a rainha das conexões sem nexo aparente, lembrei de uma: o mito da música mineira. Pq o colega ali (ADORO críticos) coloca no mesmo balaio Skank, Tianastacia, Pato Fu e Jota Quest (cujo primeiro cd era bacaninha, com Tony Tornado numa das faixas, mas o resto...) e diz que eles são os representantes da genuína musica mineira. E o pior: projeções/descendentes/seiláoque do Clube da Esquina.
Ora, se a gente precisa entender cada coisa em seu contexto para que ela tenha sentido (fala da historiadora padrão) é de bom tom manter o Clube da Esquina fora disso. Na escolha dos discos da minha vida, ganha em disparado o Clube da Esquina, trilha sonora perfeita para mochileiros-perdidos-no-interior-das-Minas, como eu. E também porque é um cd inovador, na junção de ritmos populares e eruditos.
Agora, o que há de inovador em Jota Quest? E que dialogo, de verdade, a gente trava entre eles, Pato Fu e Skank?

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Tardes de domingo no Pari

Acompanhar a feira dos bolivianos, localizada na praça Kantuta, tem sido o programão dos domingos de sol. Dos pregadores evangélicos de espanhol horrendo a convencer os bolivianos sobre o céu e o inferno, das famílias que vão reabastecer suas despensas com batatas e temperos, dos cortes de cabelo peculiares, do jogo de futebol entre os hermanos, da comemoração pela anistia, dos agradecimentos a nossa senhora de Copacabana, das saltenhas e empanadas, pollos, fricasses, salchipapas, das famílias numerosas que se sentem em casa mesmo em terra estrangeira: meu olhar atento para a compreensão desse universo.
Agora, as descobertas desse final de semana:


raspadinha multicolorida: morango, coco, abacaxi e laranja num só copo.




a primeira, feita na bolivia. a segunda, no perú: comprei porque achei as latinhas LINDAS.



inka kola, do perú. vale pela experiencia antropológica, sabe? é doce muito muito MUITO doce.

"Inca Kola es la bebida Peruana por excelencia, que refresca y enorgullece a todos nuestros compatriotas. Sólo Inca Kola, con su distintiva combinación de sabor, color y aroma, renueva los valores que nos unen y nos hacen únicos en el mundo."
próximo passo? entrevistar pessoas...

o dia em que eu me tornei lixeira ou O Cubo

De uma esquina com um amontoado de lixo:



Liguei pro lugar indicado para a entrega e ninguém soube dizer do que se trata, e pelo que parece, esse cubo está perdido há algum tempo. ("ô moça, o pessoal do setor responsável é novo aqui e não sabe nada desse cubo aí não...")


Achado, repousa na minha estante, souvenir de uma cidade que despreza arte.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

macanudo


por influencia da livia e insistencia do gual, comprei&devorei macanudo. faça isso você também.


quarta-feira, 19 de agosto de 2009

… e como se já não bastasse o amor desfeito com o fim de uma relação desejada e idealizada por tanto tempo, a ausência do colo da mãe, tão necessário numa hora dessas, distante quilômetros, a lâmpada de banheiro queimada e o banho no escuro, o emprego medíocre, os quatro anos de esforços ininterruptos, noites em claro e neurônios gastos em estudo para concursos em que nunca fora aprovada, os amigos raros, a reprovação para a tão desejada pós-graduaçao, o pai doente e inacessível, a goteira que insiste em pingar sobre suas coisas, alastrando o mofo, o barulho interminável da rua e o calor nessa cidade que desaprendeu a ser do inverno. E como se já não bastasse essa vida de cão, vieram se queixar do próprio que, pobre coitado, foi a única coisa que lhe restou de verdadeiro e honesto, a balançar o rabo e pedir afagos no final do seu dia-penitencia.

“solta pêlos-cheira mal-faz xixi no chão-late-avança-INCOMODA”

Na tentativa de amenizar o constrangimento com aqueles que se queixaram, hoje o jantar será por sua conta. Na panela o incomodo, ensopado com batatas.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Amei.

Mas amei muito mesmo: casei e separei, namorei no portão, namorei por muito tempo e por poucas semanas. Ou pela eternidade de uma noite na Augusta. Tive namorado à distancia, tive namorado ator, militante politico, esportista. Já namorei/desnamorei/namorei de novo, e isso tudo duas vezes. Já tive namorico com gente mais nova e mais velha. Já quase mudei de país por um amor, quase mudei de Estado. Quase. Já traí, já me trairam, já chorei baixinho, dei escandalo, bati porta, roí unha e, num ato desesperado de amor-quebrado cortei o cabelo bem curto, como se os cachos pelo chão apagassem a dor. Já fui muito feliz. E triste também.

E justamente por tudo isso eu consigo afirmar: agora é. Sem duvidas, sem crises, sem medos, agora é.

Depois de passar por tudo isso me restou apenas o amor tranquilo do moço que tá ali na cama a me dizer, agora agorinha “amor, vamos dormir?”

Simples assim.


Finalmente descobri sobre o que quero falar, e isso é um passo grande e doloroso.

Porque eu sou indecisa. Ou porque eu acabo me envolvendo com muitas coisas, muitos assuntos, sem relação entre si. É assim desde sempre. Na graduação, trabalhei com segurança e insegurança escolar, com vocabulário politico do século XIX e educação inclusiva, três assuntos em três departamentos completamente diferentes: sociologia, história e educação.

Terminei a graduação, dei um tempo e abri uma skol. Trabalhei direitinho, virei professora de sala de leitura, indiquei Neil Gaiman pra 5ª série, contei história pros alunos da EJA. Entendi que por mais que eu queira e acredite, não dou conta de trabalhar na periferia da periferia e perder tres horas da minha vida no transporte público e, o mais importante, cruzar na esquina com aluno armado/e/ou um corpo. Então voltei pro Centro e pras crianças pequenas, as quais dedico minhas histórias, músicas, cafunés e broncas. Em especial, às bolivianas. De quem eu quero falar.

Bem, quem me colhece já ouviu essa história um trilhão de vezes: eu trabalho na região central da cidade, entre os bairros da Barra Funda e Bom Retiro. Por ser em período integral, a escola acaba por receber filhos dos trabalhadores da região, entre eles os bolivianos que trabalham nas oficinas de costura do Bom Retiro. São crianças com uma trajetoria bem diferente das demais, e eu nao sei até que ponto a gente dá a atenção necessária a essas particularidades. É comum dessas crianças a dificuldade em falar portugues, ou se alimentar na escola.

Devido a minha curiosidade latente, resolvi tentar entender melhor a esse grupo que atendemos: primeiro, ouvidos atentos e cuidado no acolhimento dessas familias bolivianas, de modo que eles pudessem sentir confiança e apoio no trabalho desenvolvido na escola. Segundo, entende-los em sua peculiaridade. Isso me levou à Kantuta.

Kantuta, um mundo à parte

Muitas crianças falavam sobre passos de dança e ensaios, que eram realizados aos domingos. Descobri que a coisa toda acontecia numa praça no bairro do Pari e fui lá ver: uma mistura de cheiros e cores, um mundo diferente de tudo o que já tinha visto. Comidas, temperos. Dvd’s e cd’s. Instrumentos musicais, tecidos. Bebidas. E uma santa, a quem todos devem devoção. Vi, comi e fui embora, meio encabulada de entrar num território sem convite.

Fui outras vezes, e mais atenta, comecei a reconhecer rostos sorridentes: “olá professora, sou mãe da fulana de tal, que bom que voce veio conhecer nossa feira!”. Assim eu recebo explicações com sotaque e risadas, enquanto brinco com uma criança e converso com outra mãe.

Daí que eu quero entende-los. Isso mesmo: compreender a presença dos bolivianos em São Paulo. Que eles são quase-escravos, isso todo mundo já sabe. Agora, o que não sai no jornal é esse modo bonito que eles tem de cultivar a cultura e a memória, adaptando seus costumes a uma terra tão estranha a eles.

Então, o programa de domingo será, por algum tempo, ir no Pari aos domingos, na hora do almoço, e conversar com as pessoas. E fotografar, e filmar, e conversar mais um pouco...


(sabe a foto do início do post? os mais velhos ensinavam ao mais novo - que foi meu aluno - passos de dança)

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

eu abandono

depois, eu retomo. assim é minha vida, um eterno largar-pegar-largar.


(geminianos são o inferno)

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Twitter é uma coisa!

Ficar restrito a 140 toques é algo bem complexo pra mim, admito. Embora tenha queda por microcontos e toda essa modernidade, ser tão coesa é um difícil exercício, fato. E essa coisa de usar o twitter para responder às pessoas e fazê-lo uma extensão do MSN pra mim é pobre. Mas há quem goste.

Apesar disso, tem se mostrado importante fonte de informações. Linkado por @SoninhaFrancine cheguei aqui e... putaqueopariu que trabalho bonito! Uma São Paulo nenhum pouco clichê, coisa que eu adoro!

Uma amostra do que ta lá e que passa longe do usual retratado sobre a cidade:




créditos: Hélvio Romero, reporter fotográfico do Estadão.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Caio F., amigo intimo


conheci o Caio na faculdade, nos meus 23. aula de psicologia da educação, julio groppa aquino, o professor mais intenso-e-chato que já tive, tinha por habito iniciar suas aulas lendo um texto literário de sua preferência: afirmava que na docência e na universidade todo nosso tempo era dedicado à teoria, deixando assim o mundo literário em segundo plano. numa noite resolveu nos apresentar ao Caio, com uma leitura de “dama da noite”, repleta de sarcasmo e ironia. amei.

e desde então compro-e/ou-leio tudo sobre o Caio: virou meu amigo intimo, freqüentador assíduo da minha estante de livros.

toda essa volta apenas para comentar a capa do caderno Ilustrada, da Folha desse sábado. o texto “caio entre amigos” relata a nova biografia do autor, escrita por Paula Dip, baseada nas cartas escritas por Caio e nos depoimentos de seus destinatários, demonstrando como a sua trajetória traça um interessante painel dos anos 80. ainda tem um texto do Luis Augusto Fischer (até então meu caro desconhecido), bem bacana, em que diz : “O que mais chama a atenção é que a força de Caio, quer dizer, de sua literatura (hoje essa mistura ganha o elegante nome de autoficção, como Auster ou, sei lá, Mirisola), não vem do apelo sensacionalista que alguns quererão ver em sua obra, mas procede do exame minucioso a que submete as percepções e sensações íntimas de gente como o leitor e eu, pertencentes à civilização dos Beatles.”

assim como o tal professor me pegou de jeito com aqueles textos de puro sentimento intenso lidos em voz alta, rompendo a monotonia de nossas noites de cansaço e sono, assim faço com quem eu conheço: leio em voz alta as angustias de personagens tão urbanos e confusos, como eu e você, em meio as sirenes, as buzinas e o caos de nossos sentimentos.

(no aguardo da tal nova biografia, revendo os livros antigos)

domingo, 12 de julho de 2009

surreal

O silencio da noite foi rompido por seu lamento: gritou a sua dor, acordando todos os moradores dos 14 andares do Edificio Maracanã que, desejosos por mais uma noite de sono e nada compreendendo, imaginaram esse ser mais um dos inumeros evangelicos da praça da Sé em meio a uma pregação/exorcismo ou coisa parecida.

Mas não.

O porteiro não deu conta de atender os interfones repletos de sono dúvida queixa e temor. E à policia, que chegou para atender o chamado de alguém do terceiro andar.

De nada adiantou: o corredor não comportou a sua loucura, que invadiu o apartamento vizinho e ultrapassou a janela.

Caiu do terceiro andar na rua quirino de andrade. Azar: com um muito mais de impulso talvez caisse na xavier de toledo ou, com sorte, poderia ter sido a Consolação.

Mas não.

Foi apenas mais um anonimo a alçar voo no centro de São Paulo. E não chegar a lugar algum.

(do email, explicando tudinho pro moço:

Querido

Tenho que te contar o fato bizarro que ocorreu comigo nessa noite!

Saí do trampo e fui pra sua casa, pra botar ordem na coisa. Limpei, arrumei, organizei, o tempo passou e resolvi dormir lá mesmo. Duas da manhã acordo assustada com a gritaria. Tranquei todas as fechaduras da porta, espiei pela janela e os vizinhos me explicaram que era no terceiro andar. O maluco gritava alucinadamente, pedindo por Jesus, pela mãe e por sei lá mais o que, numa coisa meio “pregador da praça da Sé” saca? Pois bem, acompanhei a gritaria, que durou por ainda meia hora, foi ficando baixinho e abafado até acabar e eu pegar no sono.

Ponto.

Hj de manha fui perguntar pro porteiro: o cara do terceiro andar, que teve problemas com drogas e havia passado por tratamento, resolveu voltar pra casa. A mulher não quis recebê-lo. Ele fez escândalo. Ela chamou a policia. Ele fez mais escândalo e uma curiosa vizinha abriu a porta, ele entrou no apê dela e se jogou da janela. Morreu.

Surreal, não? )

Se você quiser eu danço com você
Meu nome é nuvem
Pó, poeira, movimento
O meu nome é nuvem
Ventania, flor de vento
Eu danço com você o que você dançar
Se você deixar o coração bater sem medo


No quesito trilha sonora da minha vida o cd Clube da Esquina ganha em disparado. não há uma razao lógica pra coisa: acho o conjunto das musicas que formam o album de uma boniteza só, presença nos fones mais que perfeita para as minhas tantas andanças por Minas. Inclusive uma delas foi guiada pelo texto delicioso do Marcio Borges, no Guia de Belo Horizonte Roteiro Clube da Esquina.

As misturas, as variações de ritmo, os instrumentos utilizados, as letras, essa coisa de afirmar o particular (a identidade mineira) sem se opor as influencias estrangeiras, o dialogo entre as tradicionais cançoes da terra, os irmaos latinoamericanos e a modernidade. E tem aquelas coisas de musica que eu nao sei explicar mas que sinto. E gosto.

Para além da rasgaçao de seda, nesse sabado rolou um show do Lô Borges na abertura do Festival de Inverno de Paranapiacaba.

Desafiando o frio e a chuva, fui.

E foi lindo...

(fotenha da Pri, a irmã que tenta fazer boas fotos, mas a camera não coopera...)

sexta-feira, 3 de julho de 2009

em off


Cansada e de saco cheio, abro a porta e vejo que o cachorro resolveu brincar justamente com o meu jornal. O estrago? Um amasso aqui, outro acolá, e o caderno Esportes com-ple-ta-men-te mordido, e justo a foto do Lula recebendo o time do Curintia (certo, mano!).


Não consegui ficar brava.


(para animar o final de semana que terá festa de criança brigadeiro e tudo o mais...)

Doze coisinhas à toa que nos fazem felizes

Andar de skate num ligar lisinho
Tomar sorvete do de palitinho
Passar a mão, de leve, no gatinho

Andar na chuva que é pra se molhar
Passar cola na mão e descascar
Acabar a lição pra ir brincar

Jogar estalo pra estalar no chão
A cor azul das penas do pavão
Ver na TV seu clube campeão

Ver gelatina tremendo no prato
Nadar depressa usando pé-de-pato
Mostrar a língua pra tirar retrato

(poema da ruth rocha, que meus aluno sabem de cór!)

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Com o argumento de realizar uma gestão transparente, desde ontem a prefeitura de são paulo disponibilizou na web a folha de pagamento dos servidores municipais. Segundo a Folhade ontem: “A prefeitura afirma também que os valores salariais a serem expostos na internet representam tudo aquilo que cada funcionário recebe --ou seja, incluindo também gratificações.” Todos os servidores têm os seus salários disponíveis para qualquer um ver, exceto a GCM, por uma questão de segurança.
Ora, se o salário exposto é de um servidor municipal, pago com a contribuição do munícipe, nada mais justo que este saiba quanto custa aquele que o serve, correto? É dinheiro público e não deveria ser segredo pra ninguém, ok?
Daí sai uma coisa assim no Estadão de hj:
“Um professor de ensino fundamental e médio do município de São Paulo teve no mês de maio vencimento bruto de R$ 143 mil. Entre os 147 mil contratados na administração direta, mais de 2.418 pessoas receberam em maio vencimentos acima de R$ 12,3 mil - salário pago ao prefeito Gilberto Kassab (DEM). Somente na Secretaria Municipal da Educação, 1.255 servidores receberam mais que o teto no mesmo período.”
O fulaninho qualquer que leu isso aí obviamente pensou: “professor ganha bem, hein?” ou “mas que prefeitura é essa que paga tudo isso pra um professor?” ou “e eu aqui..”.
Eu pensaria o mesmo, se não fosse servidora. Segundo o portal onde se obtêm a informação, eu recebo pouco mais de 16 mil reais. Porem, lá não consta que esse valor é resultado de uma evolução funcional, e também não consta os descontos, que foram muitos e que deixaram meu salário como o de qualquer mês, lá embaixo.
E ainda: para saber o salário do professor, basta consultar a tabela de vencimentos oferecida nos sites dos sindicatos. Quando resolvemos prestar um concurso público é de conhecimento geral o valor do salário.
Simples assim. Sem nomes, sem registro funcional, sem exposição pública.
Matutando, concluí duas coisas:
Uma, que a prefeitura deu um tiro no pé e margem para muitas criticas, pois afinal como pode um professor ter salário superior ao do próprio prefeito? Quem deixou isso acontecer? Como se explica tamanha desigualdade salarial?
Duas, se os professores ganham tão bem, para que reclamar, fazer greve?”

O fato é que eu fiquei bem brava.
E em breve meu pai vai ligar e me cobrar um carro novo.

ps: quero meus 16 mil!
ps2: de olho nas contas

segunda-feira, 15 de junho de 2009

livro-objeto, livro-arte

há duas semanas fui a uma Feira de editoras independentes, no Simpoesia 2009, a convite da Lívia (sempre ela) e fiz uma descoberta que me encheu os olhos: os livros da Vox. Antes, é de bom tom explicar algumas coisas:
1º eu ADORO livros, e tenho alguns deles aqui e outros ali, no meu trabalho. Gosto, leio, carrego e prezo tê-los por perto. Admiro não só o texto, mas capa e modo como ele se apresenta (principalmente os infantis);
2º Lívia também é assim, mas além de gostar da palavra escrita, ela também escreve (e muito) e se envolve com as questões de produção, como a sua participação em Dulcinéia Catadora.
Esclarecimentos a parte, voltemos a narrativa dos fatos:
Participamos de um debate. Não me lembro dos nomes dos integrantes da mesa nem o tema exato, mas impossível esquecer as suas falas e posturas: um se dizia “discípulo de Gutenberg”, com uma produção artesanal pequena (cerca de 40 cópias por titulo) dos autores que ele admira, para a distribuição entre amigos; e uma outra, também nessa produção artesanal, pesquisa de papeis e modos de impressão e blá blá blá, com impressão também super rescrita; e o Gustavo Lopez, da Vox, que logo ganhou meus olhos e ouvidos.
A tal Vox já está no mercado editorial há algum tempo, editando novos autores, primando por oferecer livros diferenciados a quem quiser comprar (passa de longe a marca dos 40). O moço disse uma coisa bem bacana: no processo de impressão e produção do livro alguns detalhes são acrescentados, de modo a tornar aquele um objeto único, criando uma relação quase que sentimental entre aquele que produz e aquele que adquire. Depois do debate, duas palavras a mais e ele marcou a sua postura: afirmou categoricamente que leitura (e os livros) é uma questão política, e não é possível manter-se alheio a isso.
ADOREI
(segue uma amostra das minhas aquisições. note: há o livro, desenhos, adesivos e outros mimos no "pacote")
ps: auto-definição da Vox:
"VOX es en la actualidad un proyecto de encuentro, producción y análisis de estéticas relacionadas con la literatura y el arte contemporáneo, es además una organización de artistas autogestionada que no depende de instituciones oficiales."

domingo, 14 de junho de 2009

O filme, a cor ou a fruta predileta são questões que já não estão mais em pauta, uma vez que a afirmação da identidade e de todos os símbolos nas quais ela pode ser traduzida (ou definida) já não faz mais sentido pra mim. Ainda assim Apenas o fim é um bom filme, repleto de coisas que lembram fases (e frases) da minha vida, incluindo o Los Hermanos no final.

parada gay 2009


pq o amor é lindo.

ROQUEIROS TAMBÉM AMAM!

dia dos namorados, sesc pompeia. pq dentro de todo punk mora um romantico...

(vanessa, do ludov e clemente, do inocentes)

projetinho-bem-bobo para o dia dos namorados

pois bem, estou lendo demais alguns blogs sobre manualidades (devidamente linkados ai ao lado), que tem me deixado com a pulga atrás da orelha e as noites devidamente ocupadas, enquanto o moço não vem.
chegou o dia dos namorados, a grana curta, a cabeça cheia de idéias e
tchã-nam!
Temos um presente diferente!
Seguindo as dicas da Livoca (e seu presente, gata, como foi?) fiz assim:


CAIXA DE MEMÓRIAS
Todo mundo tem memórias, traduzidas em bilhetinhos, cartas, mimos ou outras frescurinhas de amor. Que passa, e daí vem outro e outro. Ou não. As minhas memórias estão devidamente guardadas numa caixa do correio e um dia, quando eu mudar de apê, ficarão no canto onde hoje está e alguém vai encontrar, abrir, ler e se emocionar, uma coisa meio Amelie. As memórias do moço eu bem sei onde estão e não conto pra ninguém. Pensando nisso (e numa embalagem bacana) fiz uma caixa de memórias, para ele guardar as nossas lembranças. Eu espero que o espaço seja insuficiente, claróbvio!
Caixa de papelão revestida com durex colorido e a palavra memória em todos os idiomas que o deus-google permitiu.

FRONHA-POEMA
Para as noites tranqüilas, um par de fronhas cobertas de poemas. Uma ficou multicolorida, com letras em tamanhos diferentes e desenhos; a outra, apenas letra bastão e caneta preta e vermelha. Para o tempo não apagar, fronhas 100% algodão e canetas para tecido.
Repertório? Os livros de poesia marginal, de chacal a Leminski. Também tem os encartes de cd’s curtidos a dois.
COPOS?
Para o futuro, coisas do passado: dois copos de milk shake daqueles beeeem antigos.
Da loja Serramar Brasil, na Rua Paula Souza

o resultado?
ele gostou bem muito...
Tenho o maior orgulho de dizer que moro na rua rocha, no bixiga. Muita gente torce o nariz, diz que é feio/perigoso/sei lá mais o que, mas não me importo: vejo graça até na feiúra da praça 14 bis, nunca fui assaltada ou ouvi um tiro sequer.
Embora esteja localizada bem próxima ao Centro (cerca de 1.500 metros do metrô Anhangabaú) e à Avenida Paulista, e ainda traga para si uma boa parte do transito local (e com ele o barulho das buzinas e aquele pó cinza dos carburadores), por mais incrível que pareça guarda ares de tranqüilidade, dependendo do trecho e da hora do dia.

Gostei e fiquei. Porque tem o boteco da esquina, com ovo colorido e outros quitutes duvidosos, cujo dono me conhece pelo nome. Gosto porque tem o mercadinho que, além de aceitar todos os cartões de crédito e debito do universo ainda vende fiado para o povo do bairro. Porque de dezembro até o carnaval tem a bateria da Vai Vai, e o ano todo tem o restaurante Rancho Goiano e a galopeeeeeeiraaaaaaaa!. Porque tem a vizinhança mais estranha e peculiar que eu já vi, assunto pra umas seis temporadas de série.

Das casas coletivas dos negros (ainda restam algumas perto da rua Uma) às casas geminadas dos imigrantes, chegando aos prédios da década de 60 (como o que eu moro) e aos moderníssimos, passear pela Rua Rocha é sempre bom para quem tem olhos atentos. E revela bonitezas como essas: