domingo, 13 de fevereiro de 2011

alternativas para uma casa decente de alguém com pouca grana no bolso

agora, final de fevereiro, faz um ano que compartilhamos o mesmo teto. No começo havia pouca coisa, uns cacarecos que improvisavam móveis, inúmeros artigos de loja de 1,99 e os carnês do Extra/Marabrás/Casas Bahia. Tudo no arranjo, tudo no jeitinho.

Mas com o tempo as finanças voltaram ao estado normal, (se é que a gente pode chamar de normal a conta bancaria de dois professores, né?) o suficiente para férias dignas. E quando retornamos, quase quinze dias depois, deu o maior orgulho da casa montada e das alternativas que encontramos para resolver nossos problemas.

E nossa casa ficou assim:

Quarto:

Acho que era o lugar mais horroroso da casa. Havia uma cama antiga de cor clara, comprada numa loja de usados, um guarda-roupa preto e branco comprado na promoção e duas banquetas também de cor clara, que faziam o serviço de criado mudo. Pois bem, comprei esse cubo branco, o abajur vermelho, pintei a cama de preto e coloquei um jogo de cama vermelho.


Sala:

É o espaço que mais sofreu mudanças. Já teve estante improvisada com cadeiras, foi escritório, teve um colchão como sofá. Hoje já temos uma mesa cujo vidro foi comprado numa vidraçaria do Glicério e o pé numa loja do Gasômetro, sendo que a soma dos valores obviamente é bem inferior ao encontrado nas lojas; as cadeiras... Bem, as cadeiras só no próximo mês, viu? Há ainda o aparador e as estantes, as câmeras fotográficas, os quadros que trouxemos de Buenos Aires (como fazer empanada, chimarrão e como dançar tango) e as janelas coloridas com vista pro Guaíba, fotografadas pelo moço que não nega as suas origens.

Ficou bacana, né não?

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Finalmente 2010 acabou. Sim, eu sei, acabou já faz um tempo, daqui a pouco é carnaval e voltaremos ao estado (a)normal das coisas, mas eu preciso falar do ano que passou, que quase me matou, mas que também me fez mais forte.

Porque eu juntei os trapinhos com o moço, e isso pode parecer fofo, mas é complexo por demais: não tínhamos quase nada, apenas televisão, videogame, microondas e colchão, um restinho de grana no banco e necessidades imediatas. Improvisamos muito, descobrimos promoções, inventamos modos de viver bem. Fomos obrigados a lidar com grana, parentes, amigos e o mundo, que não está nem aí para a nossa cara de casal-jovem-e-simpático.

Brigamos muito, brigamos feio. Mas passou.

E quando alguém diz que vai casar ou morar com o ser amado eu digo, de imediato, para pensar bem, ponderar bastante, pq não é fácil. Mas é gostoso.

Hoje temos uma casa bacana. E não é a casa da Telma ou a casa do Ângelo: é a casa do casal.

E isso me faz muito feliz.

Roubei meu primeiro Leminski aos 19 anos. Achei justa a minha apropriação: na época trabalhava numa casa de recuperação de adultos, que na verdade admitia todo o tipo de gente com os mais diversos problemas, do cara que sofreu um AVC ao fulano alcoólatra, as síndromes, as pirações, tudo o que a sociedade sabe que existe mas prefere manter distancia. E eu estava lá, recém formada, tentando alfabetizar gente que não lembrava do próprio nome.

Esse local era mantido por um centro espírita que recebia muitas doações: as roupas e os alimentos eram muito bem vindos, mas os livros ficavam lá, numa sala úmida e de terra batida, esperando o tempo para virar pó. No meio deles, o Caprichos e Relaxos, paixão a primeira vista, hoje habitante feliz da estante aqui de casa.

Assim, fui a salvação de todos aqueles livros, que depois de limpos e secos fizeram parte de uma pequena biblioteca, que fez grande sucesso, para o espanto dos administradores do local, preocupados apenas com o estomago e o espírito dos internos: para ocupar o tempo, agora havia a literatura...

Entrei na faculdade, larguei o emprego, arranjei outro.

Meus encontros com Leminski continuam de tempos e tempos.

Teve aquela vez, fim de namoro, planos caídos por terra, tristeza absoluta. Mochila nas costas, fui pra Curitiba (ele, paranaense maldito!). Roteiro turista-padrão, com pausa para a leitura das cartas de Envie meu dicionário na Pedreira Paulo Leminski com lagrimas nos olhos. Quase comprei uma primeira edição de Catatau por uma pequena fortuna, mas me contive. Coisa de louco.

Ou aquela outra, no tempo em que o centro da cidade ainda era um mistério para mim e as horas eram perdidas em longas caminhadas, trombei com um poema do Leminski estampado numa parede, conteúdo, local e imagem tão relacionados, tão significativos para o momento em que eu vivia. Tão importante que precisou ser compartilhado, logo no primeiro encontro, com o homem que me acompanha desde então.

Tenho outros livros do poeta, cada um com sua história, anotações, poemas prediletos, suspiros e memórias. Vale dizer que todos foram comprados, e acompanham nota fiscal!

Tudo isso para justificar o porquê de carregar nas costas um poema dele: