sábado, 31 de outubro de 2009

Dos encontros


semana passada trombei com as meninas do superziper na fila do cinema. Nada demais, as meninas são blogueiras, eu também sou, e daí, né? E daí que elas são talentosas, que eu as acompanho já tem um tempão, que faço um monte de coisas que elas sugerem. E o que eu disse? “oi, eu acho que leio vcs... e essa flor de feltro (aponta pra flor do cabelo) eu aprendi lá”
Fim.
Eu poderia ter dito um montão de coisas, mas não: virei pra direita, sentei e me enfiei no balde de pipoca, morta de vergonha.

Com isso lembrei de outros encontros ridículos (pq eu não sou boa em encontros)

lourenço mutarelli
(lançamento na livraria hqmix. livro em punho, cara a cara com o autor mais-mais)
-oi
-oi
-er... então...
-qual o seu nome?
-Telma... e eu morro de vergonha dessa coisa de pedir autógrafo, sabe?
-Ah, eu também, nunca sei o que fazer
ele autografa. Eu digo obrigada e ponto. Nem mais um ai)
no dia seguinte, à tarde, atravessando a Ipiranga, trombo com ele novamente, que me diz um oi sorridente. Eu, feliz em ser reconhecida pelo cara, solto a pérola: “ai que legal que vc lembrou de mim... deve ser pq eu tô com a mesma roupa de ontem...”. Ele sorri amarelo, atravessa, pega um taxi e vai...

paulo henrique amorim
(bienal do livro, autografando o Plim Plim)
-oi, pode autografar meu livro?
-Qual o seu nome?
-Não, não é pra mim, é pro meu pai, o nome dele é Paulo
-sério? É jornalista também?
-Não, é peão mesmo...

leonardo boff
(na fflch/usp, pq eu fui criada dentro da teologia da libertação, ok?)
-qual o seu nome?
-Telma
-UM VIVA, UM VIIIIIVAAAA À LUTA DAS MULHERES!!!
e acabou aí.

paralamas do sucesso
(há muito tempo, na turne hey na na)
-oi, eu sou fã de vocês desde a minha infancia!
-E vc já saiu da infancia?

david lloyd
(pq eu AMO V de Vingança, ok?)
-er... então... hello...er... ângelo, fala com ele que eu não sei falar inglês!
E o ângelo falou. E pela simpatia, além do autógrafo ganhei de brinde um desenho do V. Ui*

allan sieber
(bem... com ele não houve diálogo: ele tava bebado e eu também)

ziraldo
(trofeu hqmix. Depois do seu discurso de agradecimento, @hqemfoco diz: telmaaaaaa, o ziraldo tá na sua frente! Todos se voltam para as cadeiras atrás do dito cujo, curiosos por saber quem é a tal telma. Terminado o evento...)
-oi, eu sou a telma...
-prazer telma, tudo bom?
-Eu adoro seus livros, tenho todos e leio tudo pros meus alunos. E queria ser igual a professora maluquinha do seu livro, sabe?
(risadas amarelas)
-ah é? Me manda um email pra gente conversar melhor...
-tá, tchau
(daí eu tive noção do ridículo e corri pro buraco mais próximo)

acho que eu deveria ganhar o prêmio de pior tiéte do ano


(para fazer esse texto listei todos os livros que emprestei e que não foram devolvidos, e me deu uma vontade imensa de chorar)

mostra de cinema sp

eu desisto
são paulo é a cidade com a maior concentração de cinéfilos-nerds-intelectualóides-atores-sem-nada-pra-fazer de todo universo. Só assim explico essa coisa de vc chegar com DUAS horas de antecedencia no cinema e TODOS os ingressos já terem sido vendidos.
Ok, a vida é assim, vamos ligar antes pra ver se tem ainda ingressos:
- oi, ainda tem ingresso pra sessão das 14:00:
- sim, moça, ainda tem 47 ingressos..
13:00. pega o elevador, corre, pega um taxi, 10 minutos depois:
- duas meias pra tokyo, por favor!
- São as ultimas, que sorte a sua!
É isso ai, colhega: nessa cidade tudo é concorido a tapa.
***
um filme, três episódios. uma visão acelerada/colorida/vibrante/onírica/alegórica deTókio.
o filme não é uma declaração de amor explicita a uma cidade, como Paris eu te amo ou Bem vindo a São Paulo (que alias eu não gostei nem um pouco): a metrópole aparece como um pano de fundo fundamental para o desenvolvimento das três histórias quase surreais apresentadas.
Vale MUITO a pena ver


ps: e uma coisa ficou decidida: se um dia eu tomar coragem e fazer uma tatuagem, ela será como a da menina do terceiro episódio do filme: botões, para relaxar, desestressar, amar e desligar.

não
eu não sou da moda nem da arte nem do palco nem do holofote nem da rua nem da graça
sou dos textos:
passionais

(uma coisa que acabei de mandar pra deburah, e que era meu texto-de-cabeceira há uns anos atrás:)

Céu Embaixo
17
Janelas, escancaradas janelas do 17º andar, aqui vou eu, aqui vai toda essa minha estúpida vontade de apagar a luz, única maneira decente de apagar a dor.

16
Décimo sexto andar. Até aqui, tudo bem. A temperatura está a 17 graus, o céu azul, e a lei da gravidade continua funcionando com o costumeiro rigor. Quem partiu, tem que chegar.

15
Ao passar pelo 15º andar, já não acho mais que quem partiu tem que. Está provado que é possível, em certos casos, partir sem chegar a. Nesses casos, se diz, houve empate. Eu não jogava pelo empate. Jogava pelo escândalo, vitória ou derrota. Foi vitória? Derrota? Tem gente que prefere abrir o gás. Tem quem se dedique à pesca submarina. Em nenhum desses casos, o fim é algo de último, a meta não é definitiva. Qual era o jogo dela? Fosse qual fosse, amigos, amigos, jogos à parte.

14
Só quem já caiu de um 1º andar pode imaginar o que senti quando. Quando foi mesmo? Será que foi? Ou foi um peso que tirei de cima de mim? Peso por peso, prefiro o meu, que, pelo menos, me leva para algum lugar.

13
Pronto. Treze é meu número de azar favorito. Tenho outros números de azar. Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, por exemplo, essas coisas, enfim, que atravessam as réguas de cálculo. De todos, 13 é o meu predileto. Que foi que fiz para merecer cair até o 13º andar, donde se descortina um relance do Atlântico? Quem sabe eu não devia ter, vocês sabem. Vai ver, aquela nuvem lá longe não passa de um eco de um pensamento meu. A raiva é sábia.

12
Alguma coisa não pára de me dizer, não devia ter vindo. Eu sabia que a comida era péssima, o atendimento sempre ficava a desejar. Mas, depois de vindo, como desvir? O 12º é sempre o mais filosófico. Aquele onde o ato de pensar fica mais ridiculamente genérico. Cair não é genérico. Cair é a coisa mais natural do mundo. Cair é lógico. Podem perguntar para qualquer pedra do planeta Terra.

11
O 11º andar é sempre um caso à parte. Talvez melhor dissessem um caos à parte. Mas isto não seria correto. O correto consiste em dizer: o 13º andar, donde se descortina um relance do Atlântico, sim, o mais correto, é deixar cair.

10
Não sei como suporto esta situação. º absolutamente ridículo. Só porque alguém saltou do 17º andar de um edifício não quer dizer necessariamente que tenha que chegar até um, digamos, décimo andar. O décimo andar, em casos de queda, é objeto e motivo de lendas e chacotas entre muitos povos primitivos que, absorvidos por outros afazeres mais prementes, deixaram-nas cair no esquecimento, onde jazem até hoje. Mas jazem muito bem. As lendas sobre o décimo andar, ainda vai haver quem as conte. Palavra de honra.

9
Que frio. Bem que minha mãe falou, leva um casaco. Sempre assim. A cabeça não pensa, o corpo é que sofre. O que eu queria mesmo era ficar para sempre no 12º andar.

8
Ela, ela mora no 12º andar. Ao passar, quase dei um alô. Ela não entenderia. Telefonaria para a mãe. Fritaria um ovo. No máximo, olharia para baixo. Ou para cima, para ver de onde eu tinha vindo.

7
Parece mentira, mas cheguei ao 7º andar. A que ponto chegamos! Nessa velocidade, a lembrança do 12º andar parece apenas uma lembrança. A física ensina que os corpos têm sua queda acelerada à medida que se aproximam do destino. Não vejo por que deveria ser diferente comigo. A lei da gravidade é a mais democrática de todas. Rege, com idêntico rigor, gregos e troianos, jóias e paralelepípedos, impérios e pétalas de magnólia. Sete é conta de mentiroso. Ela me mentiu. Nada mais fácil que mentir que se ama alguém. Basta dizer: eu te amo. Quem vai saber? Como medir? Como provar? As palavras também estão sujeitas à lei da gravidade?

6
No sexto, fica a administração. É o andar mais frio e mais distante. É onde se tramam as grandes negociações, onde ficam os cofres com os segredos indecifráveis. Chegar ao sexto andar é a ambição de todo corpo que cai. Os que não. A poucos é dada essa proeza. Os que fracassam, fatalmente, continuarão caindo até o quinto, onde ficam os infernos.

5
Do antigo inferno, o moderno só traz o nome. Na verdade, o inferno de hoje, no quinto andar, é um dos andares mais agradáveis do edifício, dispondo de amplas instalações, sala, cozinha, banheiro, área de serviço e quarto de empregada. Os banheiros são revestidos de material à prova de fogo, precaução inútil, já que neste prédio raramente ocorre algum incêndio de proporções catastróficas. Da janela do quinto andar, avista-se o letreiro que diz, PROIBIDO CAIR.

4
Ninguém nunca soube para que servia o quarto andar. Sempre se imaginou que era uma espécie de depósito onde se guardavam as coisas que não serviam mais para os andares de cima, garrafas vazias, móveis usados, lâmpadas queimadas, livros já lidos, óculos quebrados, espelhos, diários, relógios.

3
Deus queira que esta saudade do 12º permaneça acesa durante todo este andar, durante o frio, o vento, a angústia, a raiva e a força maior deste poder que me chama.

2
Não há muito a dizer, nunca há. Meia dúzia de palavras resolvem problemas de mil anos atrás. Fomos nos dizendo cada vez menos Dizer sempre é uma outra coisa.

1
O chão é duro.


p. leminski - Céu embaixo
(do livro Gozo Fabuloso)
(in jornal Folha de S. Paulo, mais!, p.12, 15 de agosto de 1999)

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

coisas de meninas - capítulo 3: banheiro

a reforma nos deixou um banheiro branquinho. tratamos logo de reverter a situação com muita cor em pequenos detalhes:

1º - espelho, que recebeu em sua moldura botões multicoloridos (viva a 25!)
2º - parede, que ganhou pastilhas de mosaico entre um azulejo e outro (do tempo em que eu
fazia caixinhas de madeira)
3º - cortina, que também recebeu botões em suas argolas
4º - poster com obras de toulouse lautrec e egon schiele
5º - banqueta, para as revistas e jornal.
6º - tomada, com mais botões
7º - decotape de bolinhas, no pote de sabonete liquido
mesmo com todas as mudanças, percebemos que há um vazio entre o bidê e o vaso sanitário, que poderia ser ocupado por uma planta. mas qual? e no mais, que função poderíamos dar a um bidê que não é usado como tal?


um viva para a cola quente, que nos ajudou na empreitada!

coisas de meninas - capítulo 2: cozinha

queríamos uma mesa nova, grande o suficiente para o café da manhã de domingo, cada qual com o seu namorado e/ou convidados. e precisava ser barata, beeeem barata.
depois de muito vasculhar na internet idéias criativas, práticas e econômicas, optamos pelo simples: uma porta e dois cavaletes. o pai deu a dica: rua do gasômetro. tudo em/para madeira ("mas filha, compra uma mesa nas casas bahia e paga em 12 vezes, sai baratinho...")
ainda não decidimos sobre a cor, mas uma coisa é fato: mesa de dois metros é o máximo!

vamos aos custos:
cavaletes: R$16,00
porta: R$46,00
cadeira: R$30,00x6
total: R$258,00

e ainda:
- plástico, por R$6,00 o metro, no bom retiro
- passadeira (sim! aquela de colocar no chão!) cortada na medida certa faz a vez de jogo americano, por R$6,00 o metro, também do bom retido.
- toalha de mesa, do extra
- espada de são jorge, pra afastar o mau olhado
- relógio de parede, da loja de 1,99 da barão de itapetininga

ainda falta uma luminaria, como essa aqui e algo para quebrar o branco-sem-graça do azulejo.





coisas de meninas - capítulo 1: sala

há pouco mais de um mês as coisas começaram a mudar aqui em casa. de verdade. trocamos uma advogada por outra. não, minha gente, advogado não é tudo igual: essa topa reformas, ajuda nas compras, cozinha e tem senso de humor, e é a mais nova moradora do 902.
somos três meninas: uma, publicitária e gaúcha, há algum tempo em sp, outra, advogada da mooca, que precisa ir além do leito materno, e eu, professorinha e moradora de sp também há algum tempo. com a vinda da nova moradora, concordamos que era necessário realizar algumas mudanças na velha casa.
E as mudanças foram tããããããão legais que eu acho que são dignas de nota. A partir daqui, posts sobre decoração, com pouca grana, criatividade e cola quente.

a sala:
pufes velhos+sofá-cama preto+almofadas da 25 (3 por R$10,00!)+quadros que foram presente do ex chefe+tapete de chenille+mesa de centro+caixinhas chinesas(?) de porcelana(?)da loja de 1,99+livros estilosos argentinos+luminária de papel baratérrima da Liberdade+luminária da teodoro sampaio
=
SALA ACONCHEGANTE PRA VER TV E RECEBER AMIGOS
tudo isso por muito pouco ou quase nada. juro.