quinta-feira, 18 de março de 2010

Meu primo morreu.

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Foi aos 20 anos, por uma coisa bem boba pra gente, mas letal para alguém com paralisia cerebral, de saúde frágil e corpo debilitado. 20 anos de sofrimento de uma família que fez o melhor que pode para cuidar de um filho que esboçou poucas reações durante a vida.

No enterro estava lá, nítida, a dor de um pai que enterrou o filho de mesmo nome, o desespero da mãe que perdeu o foco do seu afeto e a minha covardia de sempre me manter alheia a tudo.

Sim, eu sou covarde.

Porque não me envolvo com as questões familiares, não sou solicita, não acompanho, não sei das mazelas e das alegrias daqueles que me transformaram em gente. Falo deles com distanciamento, como se eles estivessem há quilômetros de distancia. Mas não, eles estão ali em Mauá, terra da minha infância e que eu tanto odeio.

Covarde porque eu não quero passar pela dor daquela mãe. Porque eu não quero correr o risco de fazer algo com defeito de fabricação, porque não suportaria a frustração de algo dar errado, porque não suportaria enterrar um filho, porque eu acho o mundo muito ruim para um filho meu viver. Não que o produto do meu útero seja algo melhor que as outras pessoas, mas é porque eu acho que o mundo não tem jeito.

Meu primo morreu quando eu estava de mudança, rumo a uma casa nova e ao grande amor. Mas não tive coragem de esboçar a minha felicidade frente a enorme dor dos outros, um pouco a minha também.

Enfim, sou covarde pra caralho.

Um comentário:

Anônimo disse...

Sincero e ácido. Como soda caustica. Mas, anime-se! Auto-crítica anda meio fora de moda, num mundo em que ninguém, ou quase ninguém, assume que errou....
Nilton