sábado, 12 de fevereiro de 2011

Roubei meu primeiro Leminski aos 19 anos. Achei justa a minha apropriação: na época trabalhava numa casa de recuperação de adultos, que na verdade admitia todo o tipo de gente com os mais diversos problemas, do cara que sofreu um AVC ao fulano alcoólatra, as síndromes, as pirações, tudo o que a sociedade sabe que existe mas prefere manter distancia. E eu estava lá, recém formada, tentando alfabetizar gente que não lembrava do próprio nome.

Esse local era mantido por um centro espírita que recebia muitas doações: as roupas e os alimentos eram muito bem vindos, mas os livros ficavam lá, numa sala úmida e de terra batida, esperando o tempo para virar pó. No meio deles, o Caprichos e Relaxos, paixão a primeira vista, hoje habitante feliz da estante aqui de casa.

Assim, fui a salvação de todos aqueles livros, que depois de limpos e secos fizeram parte de uma pequena biblioteca, que fez grande sucesso, para o espanto dos administradores do local, preocupados apenas com o estomago e o espírito dos internos: para ocupar o tempo, agora havia a literatura...

Entrei na faculdade, larguei o emprego, arranjei outro.

Meus encontros com Leminski continuam de tempos e tempos.

Teve aquela vez, fim de namoro, planos caídos por terra, tristeza absoluta. Mochila nas costas, fui pra Curitiba (ele, paranaense maldito!). Roteiro turista-padrão, com pausa para a leitura das cartas de Envie meu dicionário na Pedreira Paulo Leminski com lagrimas nos olhos. Quase comprei uma primeira edição de Catatau por uma pequena fortuna, mas me contive. Coisa de louco.

Ou aquela outra, no tempo em que o centro da cidade ainda era um mistério para mim e as horas eram perdidas em longas caminhadas, trombei com um poema do Leminski estampado numa parede, conteúdo, local e imagem tão relacionados, tão significativos para o momento em que eu vivia. Tão importante que precisou ser compartilhado, logo no primeiro encontro, com o homem que me acompanha desde então.

Tenho outros livros do poeta, cada um com sua história, anotações, poemas prediletos, suspiros e memórias. Vale dizer que todos foram comprados, e acompanham nota fiscal!

Tudo isso para justificar o porquê de carregar nas costas um poema dele:

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