sábado, 18 de setembro de 2010

Acho que um sinal da minha velhice foi ver o VMB 2010 e não entender absolutamente nada do que ocorria ali. Rádio? Só escuto a Kiss, e olhe lá. Minha cultura musical vem daquilo que leio e baixo, mas sobretudo das minhas memórias: não sou muito ligada em mudernidades, eu gosto mais ou menos daquilo que eu sempre gostei. Mas daí vem o VMB, meninas enlouquecidas e aquele som desconhecido que se intitula rock. Fiquei atônita.

Procurando explicações para a minha cara de ué, cheguei a essas duas coisas:

“O Restart ganhou tudo no VMB 2010. Parabéns. Explicação: ganhou porque é rock de verdade. Rock é tudo aquilo que um jovem ama e seus pais desprezam. Pode ser um corte de cabelo, um tipo de roupa, um grupo de amigos, até música, e preferencialmente tudo junto.

“Apedrejar o Restart - ou Elvis, os Beatles, o RPM ou Luan Santana - pela paixão de suas fãs é inútil. O Restart é a rebelião adolescente do momento.

daqui

“É por isso que não canso de me perguntar qual é a do rock brasileiro nos anos 00. Acomodado nos já não tão confortáveis braços da indústria da música, cada vez mais combalida pela pirataria, ele se apresenta apenas como um acessório estético de revolta controlada, que não avança em suas proposições justamente por se conformar aos jogos de poder e mercado. Como o pop supostamente sensível do Capital Inicial, dos anos 80, mas renascido nos anos 00 e cada vez mais semelhante a um livro de auto-ajuda para adolescentes em crise; e a fantasia “sex, drugs & rock’n’roll” do Cachorro Grande, milimetricamente sujos e descuidados, como se os Rolling Stones tivessem surgido repentinamente do provador de um brechó da Benedito Calixto direto para um editorial do curso de moda da Fundação Álvares Penteado. Ou mesmo a suposta dureza de CPM 22, Fresno e NXZero, com suas tatuagens e visual estilizado, que se confronta com o vazio do discurso e a ausência de imaginação, abraçando como única razão de sua existência a trilha sonora de uma adolescência conformada.

“Foram precisos três anos, duas bandas de Pernambuco, quatro moleques de Brasília e um bando de maconheiros do Rio de Janeiro para que fosse possível confirmar a viabilidade de uma música pop genuinamente brasileira. O mangue bit, os Raimundos e o Planet Hemp mudaram tudo ao cruzar gêneros, desafiar convenções de mercado e estabelecer um novo padrão de composição, que fugia do rock, se aproximava do rap e tinha como referência as contradições das grandes cidades brasileiras. Suicidal Tendencies e forró, hip-hop e a malandragem da Lapa, skate e maracatu. Ídolos pop de uma linhagem suburbana, a continuação pós- moderna do imigrante que enxerga a metrópole a partir de uma perspectiva muito particular. Cabelo carapinha, pele escura e dreadlocks em choque com o arianismo gélido e encapotado do rock dos anos 80.

Mas a onda que quebraria com toda a força em 1994 recuou e se diluiu, ainda que seus respingos estejam por aí. E o ciclo de destruição pop se repete quando a música jovem feita hoje no Brasil, pelo menos a que se impõe no mainstream, surge da negação da década passada ao abraçar o rock tradicional da mesma maneira que a geração dos anos 80. O som é californiano e o padrão estético a ser perseguido não está na periferia das cidades brasileiras e sim nos subúrbios norte-americanos; sejam eles reais, idealizados ou mesmo replicados de maneira pobre nos condomínios de São Paulo e da Barra da Tijuca.

daqui

O Restart (e semelhantes) é a rebelião adolescente do momento. Mas é uma rebelião limpa e controlada, sem danos. Eu acho que na verdade a gente vive um momento de merda, a gente vive num marasmo chato pra caramba e a musica que produzimos é absolutamente coerente com o nosso tempo. Pra apunhalar meus pais e chocar toda aquela gente do Vale do Paraíba da minha adolescência eu vivia de calça xadrez, camiseta do Rage Against e boné, com os discos do Nirvana e o Cabeça Dinossauro embaixo do braço. Hoje o máximo que a minha irmã, onze anos mais nova, faz é escrever daquele jeito estranho, com maisculas-minusculas-e-miguxês, tirar fotenhos fazendo biquinho na frente do espelho e ouvir as bandas do momento. Nada que de fato afronte e assombre os mais próximos. Tudo muito ameno.

Hoje tem show do Pato Fu. No ultimo que fui, no primeiro semestre, fiquei besta em ver como as pessoas eram bonitas e bem comportadas. Ninguém se levantou, pulou, vibrou. Na platéia era grande o número de casais com filhos, ou pessoas que aparentavam estar pra lá da casa dos 30. Nenhum louco que fosse pra frente do palco pular ao som de Capetão 66.6.

Teve o Planeta Terra, né? E teve outros shows bem legais, bem dançantes. Mas quem é que escuta essas bandas? E o que está na boca do povo?

Acho que o rock envelheceu e não fala mais aos jovens.

Um comentário:

kell disse...

acho bem normal uma menininha de no máximo 13 anos ouvir bandinhas emos, o que me assusta é ver mulherada beirando os trinta ou com mais de trinta gritando feito adolescente.

e tenho mais medo ainda do que pode vir depois deles.