sexta-feira, 22 de julho de 2011

das razões pra gente parar

Na sala do médico: cristais, anjinhos, cheiro de incenso, um darumá, pirâmides. Dá tempo de correr?

Fui pra acupuntura por indicação do ortopedista, com o objetivo claro de amenizar a dor que eu sinto. Quase uma hora de espera, o tal médico me atende, com todo o tipo de questões, desde coisas comuns à medicina, como as doenças que eu tive/tenho (de pele à pedra nos rins, ele quis saber TUDO). Quis saber como foi minha infância e a adolescência, os meus traumas (oi? acabei de te conhecer e vou dizer meus traumas?), meus relacionamentos, se eu gosto ou não do meu trabalho, como é a minha vida afetiva, o quanto eu guardo de rancor. Por fim, perguntou coisas do tipo: salgado ou doce, se prefiro alimentos quentes, frios ou na temperatura ambiente, se durmo muito ou tenho insônia, se sinto mais calor ou frio. O tal médico me olhou longamente, querendo relacionar a minha vida ao meu problema de saúde, mas não conseguiu: aparentemente eu sou uma pessoa equilibrada, logo não há uma explicação, nessa perspectiva, para o meu problema de saúde. Tchau, foi um prazer, agulhadas só semana que vem.

Saí de lá achando isso meio inocente, essa coisa de relacionar a minha vida à minha saúde: o que posso fazer se as minhas células não cooperam?

Conversando com o moço, que é mais equilibrado e menos ignorante que eu (já fez até yoga, olha só) veio a seguinte teoria: eu SEMPRE precisei correr atrás, saí de Mauá e fui parar na USP (são muitos quilômetros dentro do trem, gente), PRECISEI estudar e trabalhar, PRECISEI me desdobrar para dar conta de tudo, ME DEDIQUEI demais aos homens da minha vida (e foi bom, que fique claro), PRECISEI morar com duas meninas até então desconhecidas, PRECISEI economizar, me virar SOZINHA. Encontrei um amor, fui morar com ele. Nos mudamos E NINGUÉM VEIO ME PERGUNTAR SE EU PRECISAVA DE ALGO, me virei mais uma vez SOZINHA (vc sabe o quanto é difícil mudar de casa? Mudar de vida? Dividir seu espaço com alguém? As responsabilidades? A família do outro alguém, quinzenalmente na sua casa quando vc mal pode oferecer o mínimo e morre de vergonha por isso?). Entrei na faculdade de novo e passava quase DEZESSEIS HORAS fora de casa (dois cargos+facul+tempo de espera/locomoção). Tudo muito imperativo, exigente, imediato.

Daí que tudo passou e finalmente veio a tranqüilidade. Só aí eu travei.

Moral da história: eu só parei quando foi possível parar, porque o corpo já não agüentava mais, mas também porque agora era possível, compreende? Apesar da minha dor ser de longa data, de algum modo meu corpo “se permitiu” parar só agora, quando a vida tava tranqüila.

Assim o questionamento do tal médico, segundo o moço, faz todo o sentido. E as mentiras que eu contei virão a tona, mais cedo ou mais tarde.

Eu continuo cética, achando isso tudo uma grande bobagem e entendendo que o mundo é um grande caos.

(não, pessoa, quando escrevo em caixa alta a parte do sozinha coisa e tals, não é com rancor não! eu sempre faço sozinha pq tenho essa terrível mania de não dividir tarefas, não dizer nada a ninguém e ODIAR pedir favores. a culpa é minha, não sua!)

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