domingo, 15 de maio de 2011

Olha,

Eu li a matéria na Folha e achei o fim da picada um grupo de moradores de Higienópolis, um grupo pequeno até, fazer pressão sobre o governo do Estado e conseguir mudar o endereço de uma estação de metrô. Fiquei indignada com os argumentos utilizados por uma moradora do bairro, relacionando transporte público a concentração de pobres no entorno, e de camelôs e sei lá mais o quê que esse grupo traria a tiracolo.

Depois de ler isso, lembrei de um acontecimento que me deixou com a pulga atrás da orelha por muito tempo:

A Mari é dona do Zé, um Chevette antigão, que apesar da aparência meio abatida não deixa ninguém na mão. Pois bem, há pouco tempo estávamos saindo de um evento, e eu estava com dor. Ela, boa amiga, antes de me deixar em casa resolveu encontrar uma farmácia de plantão para comprar analgésicos, e a única aberta ficava justamente do lado Jardins. Estacionou o carro na frente da farmácia, foi comprar as coisas e quando voltou viu duas dondocas com seu carro importado estacionando na vaga da frente e batendo levemente no Zé, causando um amasso. Quando questionadas, as duas dondocas olharam pro carro com cara de desprezo e soltaram um “mas ele já está todo amassado, não faz diferença mesmo” e deram as costas. Mari, uma mina do ABC com sangue nos zóio pisou no acelerador e ameaçou bater no carro das fulanas. Ameaçou, manobrou e fim, voltamos pra casa. O que mais nos deixou indignadas não foi a falta de educação das fulanas, mas o desdém, a indiferença. A conclusão: aquele não era o nosso lugar. A cidade tem territórios muito bem definidos e num lugar que não é o seu você não é nada.

Voltando a matéria da Folha e a polêmica toda, vi que fui convidada pro evento “Churrascão de gente diferenciada”. Achei graça, confirmei minha presença. Nada demais até ficar assustada com a velocidade que o evento ganhou adeptos e comentários bem humorados, virando notícia em sites, blogs, twitter e no SPTV.

Conversando com o marido jornalista-de-meia-tigela, elaborei algumas conclusões baseadas na ciência do “achismo”, (da qual sou ótima praticante): que hoje a gente vive num mundo onde a mobilização não é mais “vamos fazer faixa-manifestação-parar a Paulista-chamar os sindicatos e movimentos sociais”. Hoje as causas e críticas se alastram pela internet e ganham adeptos numa velocidade assustadora e quase perigosa (quem verifica se a informação procede?), e as manifestações se limitam ao mundo virtual, aos eventos do facebook ou aos TT´s no twitter, com contornos engraçados e irônicos, tudo feito no conforto do lar, sem riscos ou custos. Ou seja: a gente vive um tempo de manifestação babaca, engraçadinha e acomodada.

Ok, o evento “fake” se tornou real, a galera foi lá, fez manifestação bem humorada, ganhou ibope, virou noticia, cutucou as pessoas e merece seu mérito. Os moradores de Higienópolis são burgueses babacas e o povo, coitado, precisa de uma estação de metrô pra chegar mais rápido ao seu emprego de zelador, faxineira ou cuidador de cachorro. Desculpa, mas não é só o morador de Higienópolis que olha torto pro povo: e as dondocas dos Jardins, do Morumbi, do Brooklin? O problema é mais amplo que esses clichês, e passa pela distribuição de renda e pelo o modo como os espaços da cidade são ocupados.

Com metrô ou não, a disparidade continua e a cidade permanece dividida entre ricos que mandam e moram bem e pobres que obedecem e permanecem na periferia.

(cresci ouvindo dizer que morar em São Paulo era um luxo não permitido pra gente como eu, pobre, que deveria permanecer na periferia. Eu acho que se as pessoas pudessem morar nos imóveis do centro a briga por metrô seria infinitamente menor, pois os deslocamentos seriam curtos e possíveis de serem feitos, por exemplo, de bicicleta. Mas temos uma prefeitura que nada faz nesse sentido, né? E então a gente tem um centro vazio utilizado por traficantes/drogados/moradores de rua. E e o trabalhador que precisa se locomover muitos quilômetros pra chegar ao trabalho, como fica?

Vota no Kassab, gente!)

2 comentários:

Xuxudrops disse...

Cadê o botão aqui que faz clap clap? Preu concordar com seu protesto, sacumé.

Unknown disse...

Esse protesto tem os seus méritos... mas quero ver esse pessoal se mobilizando para a construção de uma estação na Sapopemba ou em São Mateus, que é tão urgente quanto, ou mais...