sexta-feira, 22 de maio de 2009

o melhor presente de aniversário

Tel,
A vida é dificil. É uma luta insana (e de pronto perdida) da nossa vontade de transcender contra a nossa finitude humana. A gente sonha que vai permanecer, deseja profundamente permanecer, luta desesperadamente para permanecer. A gente nega que vai desaparecer. A gente esconde (da gente mesmo, dos amigos, dos filhos, do marido) o fato cortante de que vai desaparecer. A gente se debate, arreganha o peito, estoura a voz, escreve textos, apaga textos, briga, arranca cabelos, unhas, pedaços do coração. A gente faz. A gente desfaz.
A vida é difícil. O mercado, as instituições, a contradição histórica, a luta de classes, os miseráveis, os milionários, as celebridades, os anônimos, as mulheres da vida, os homens sem vida, as flores, as armas... todas essas verdades concretas lançam blocos, criam grilhões e fazem com que a luta insana e de pronto perdida de transcendência fique ainda mais confusa e mais dramática.
Mas, mesmo no meio da sangria desatada do meu desejo, mesmo com os olhos vermelhos das luzes gritantes da cidade, mesmo com o medo do concreto e da faca, mesmo com as inseguranças e as podridões que escondo na cabeça e no coração, mesmo com o pardoxo desejo de morrer. Eu tenho você.
Você.
Uma mulher. Mentira. Acredito em Lacan. Você não existe. Você é louca. Louca porque toca no Real. Depara-se com ele diariamente e, atrapalhada pelos cachos do seu cabelo que eu gosto tanto, atrapalha-se com as mãos e não consegue segurá-lo.
Eu te amo por toda sua confusão. Por toda sua insanidade.
Eu te amo porque você me move. Porque você me afeta.
Eu gosto da tua risada de criança, da tua chatice de velha e do teu cuidado de mulher apaixonada.
Um dia eu quero que você mude. Mas não muito. Um dia eu quero que você seja mais segura. Mas não muito. Um dia eu quero que você use roupas normais. Mas não muito. Um dia eu quero que você entenda que não precisa de gente estranha pra te deixar interessante. Mas continue conversando com um moço estrangeiro ou sulista que você, por acaso, encontre, em suas caminhadas pelo Centro.
Sei que te amo porque há em você um mil coisas que eu detesto. E duas mil que eu admiro. E três mil que me encantam. E é isso mesmo. Materialista como tenho me tornado, é uma reação química medida em quantidades essa vontade doida que tenho de abraçar você, morder seu ombro e deitar com você no meu edredon.
Não se esqueça de mim.
Não se esqueça de
Não se esqueça
Não.
Um beijo
Alex.

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